sexta-feira, 30 de abril de 2010

Foda-se... (e outros textos de Leonardo Luz)


FODA-SE
Sem falsa modéstia – até por que, em mim, toda modéstia é falsa – esse texto vai mudar sua vida.
Eu tive, sim, a pretensão de transformar sua existência de uma maneira jamais vista. Esse texto traz a pessoa amada em sete dias, afasta mal-olhado, olho-gordo, encosto e até aquela música do Sandijunior que não sai da sua cabeça.
Guarde esse texto depois de lê-lo. Com certeza, daqui a algum tempo, no seu casamento, aniversário, noivado ou até no velório de alguém cuja vida tenha sido tocada pela beleza e profundidade desse texto, você vai lê-lo em voz alta e dizer que, agora, sua vida é dividida em duas partes: antes e depois de ter sido tocado por essas palavras.
Pode até usar no convite da formatura, eu cedo os direitos desde que receba um
convitinho. Só – por favor – não o credite ao Veríssimo ou ao Drummond.
Mas – dizia eu – mudar sua vida. Como mudei a minha, e agora divido com vocês. Mudou pra melhor? Bom, pra mim, muito. Pros outros, nem tanto assim. Sabe como é, na vida, no impedimento e na ginecologia é tudo uma questão de ponto de vista. Ficou curioso?
Desato o nó. Em certo momento – e isso pode estar acontecendo com você nesse exato instante – percebi que não tinha mais em minhas mãos as rédeas da minha vida (bonito isso…).
Percebi que as opiniões alheias pontuavam minhas escolhas e me aporrinhavam os ouvidos. Eram palpites sobre minha namorada, meu time, meu cabelo, minha barba, meu boné, minha faculdade, minhas roupas, enfim, sobre tudo. Se metiam em tudo, e eu percebia que, mesmo sem querer, às vezes me deixava levar por essas “opiniões imparciais”.
Foi quando fui tocado por uma luz divina. Abri a janela, e entrou uma luz através da poeira do meu quarto, dando aquele clima de revelação de filme francês. Maravilhado pelo toque do Divino em minha vida, ouvi uma voz grossa, que entoava sem parar: “foda-se, foda-se, foda-se… É isso! Foda-se!! Que se foda!!”
Antes de mais nada, tirei o cd do Ultraje a Rigor do rádio, e sem aquela voz grossa dizendo foda-se pude pensar melhor. A solução é isso! Mandar todo mundo se foder! Em linguagem popular e moderna, tocar o foda-se. Como? Acha difícil?
Acompanha: vai até o painel de controle da sua vida. Foi? Então. Agora, entre esse monte de botões, tem um vermelho, com uma capa em cima, escrito: não aperte. Pois bem, risque isso e escreva em letras pretas: FODA-SE.
Pronto, escreveu? Agora tire devagar a tampa. Fique alguns segundos fitando o botão.
Antes de toda decisão séria, fique parado alguns segundos. Pausa dramática. Dá seriedade ao momento e fica bonito depois no trailer do filme. Agora, respire fundo, olhe pro alto, faça um flashback de toda sua vida antes disso e, sem pena, aperte o botão.
Se quiser ficar mais dramático, diga algo como “seja o que Deus quiser” ou “eu não tinha escolha”. Pronto. Você ligou o foda-se.
Agora, sempre que alguém reclamar do seu cabelo, entoe o mantra: foda-se. “Essa sua namorada não presta”. FODA-SE. “que barba ridícula”. FODA-SE. “Você tem um blogue? Coisa de adolescente”. Nossa… FODA-SE. “Credo! Quanto palavrão num texto só!”. Me desculpa, mas FODA-SE.
Agora que sua vida está mudada, que você e só você escolha o que vai fazer e quando e como e com quem, vou ficar por aqui. Como? Sua vida não mudou? Ahá! Achou que eu ia falar FODA-SE? Ahhahaha!! Pra não decepcionar ninguém, FODA-SE. E vou usar também outro mantra, que tem mais poder do que esse, mas que eu não ensino.
É passado de geração pra geração. “Tô pouco me fodendo.”
Botão Oficial do FODA-SE. Aperte você também!



Ai, ai...


“Um sujeito parado, sozinho, numa esquina, numa noite de chuva e com aspecto feliz. Ou é maluco, ou está apaixonado”. Não me lembro bem de quem é essa frase, mas é sem dúvida uma dessas verdades absolutas, assim como o hidrogênio e a burrice. É, essa frase também não é minha... Originalidade é a arte de saber esconder as fontes, minha senhora. Como? Não,essa também não é minha. Mas vamos ao que interessa, o assunto da frase inicial. O que as pessoas mudam quando estão apaixonadas é uma grandeza! Nego fica simpático, bem humorado, mais calmo, anda na rua rindo sozinho, e tem até quem fique inteligente e passe a gostar de pagode e axé...



Qualquer coisa é motivo pra ficar feliz: se tá sol e de repente começa a chover, e você tá de camisa branca, pasta cheia de papel e sem guarda chuva, você logo levanta a cabeça, olha pro horizonte e fica pensando em o quanto a natureza é bela e imprevisível. Há uma semana atrás você ia estar mandando a natureza pra puta que pariu, por que sempre chove quando você tá sem guarda chuva. Passa um carro em cima de uma poça e te ensopa todo, e você, ao invés de procurar uma pedra e arrebentar o vidro do desgraçado, suspira, sorri e sai chutando a água, se achando o próprio Gene Kelly... No dia anterior você foi dormir às cinco da madrugada trabalhando, e agora, às oito da manhã, toca o diabo do telefone e, ao invés de quebrar o maldito aparelho, arrebentar a tomada e mandar o infeliz pros quintos dos infernos, você atende o sujeito que quer te vender enciclopédia às oito da manhã como se fosse seu amigo de infância, e quando ele lhe dá bom dia, você – que em sã consciência ia fingir que vai comprar o curso só pra encontrar com ele e quebrar a cara dele -, responde prontamente: “É, está um ótimo dia! Não poderia estar melhor!”, compra uma coleção de enciclopédias e ainda indica mais dez amigos que estariam interessadíssimos em comprar enciclopédia às oito da manhã de um sábado de sol. E ainda lhe deseja muito boa sorte e que ele tenha um ótimo dia. E não que ele morra de hemorróidas.
Você não liga pra pisão no pé, empurrão no ônibus nem gente furando fila. Afinal, a vida é tão boa pra ficar se preocupando com essas banalidades... Você senta no ônibus e começa a cantarolar sozinho, sorrindo e batucando no banco da frente. Você escuta uma música numa boate, e se une ao coro dos que cantam com os dedinhos levantados e olhos fechados. Nada te aborrece. Hora extra, vizinho barulhento, a Telemar, nada! Nada consegue te tirar do sério. Você não liga nem pruns malucos chatos e pretensos escritores que ficam enchendo seu saco no seu blogue, fazendo textos tão engraçados quanto dor de dente, tão inteligentes quando redação de “o que você fez nas férias” de curso de inglês de adolescente, e tão empolgantes e interessantes quanto itinerário de elevador. Nem isso te irrita. Nada te irrita. Você é o próprio Dalai Lama. Bom, quase nada. À não ser quando você liga, liga, liga e ela não atende. Aí você levanta, dá um soco no computador, um bico na mesinha de centro, taca uma pedra no pára-brisa do corno que te molhou, mete a porrada no desgraçado que tá querendo furar fila e liga pro palhaço que te ligou às oito da manhã, manda ela pra casa do caralho, e entra nos blogues pra rir dos textos ridículos daquelas bichas enrustidas só pra exercitar seu sadismo. Mas fora, isso, nada, mas nada mesmo, consegue tirar seu bom humor...


Textos de Leonardo Luz - mais informações sobre o autor, visite o blog: Eu e Meu Ego Grande

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Imagens para exercitar o cérebro

Divirtam-se!!!



Uma vaca incomum!



Encontre 10 rostos na árvore!


Consegue ver um rosto na imagem acima?


Encontre um bebê!


Consegue ver um casal se beijando?



Consegue ver as 3 mulheres?





Sabe dizer a diferença de uma rã e de um cavalo? 


Quantos elefantes têm nessa imagem?





A imagem parece se mexer!




Esse é o melhor! A imagem acima te direcionará para um site. Clique onde está escrito Neave Strobe. 
Fixe o olhar durante 30 segundos, depois olhe a sua volta!




Consegue ver o rosto de uma mulher jovem e de uma idosa?



Encontre 9 pessoas!




VEJA TAMBÉM IMAGENS PARA EXERCITAR O CÉREBRO PARTE 2: 
http://carolina-carvalho.blogspot.com/2011/08/imagens-para-exercitar-o-cerebro-2.html

sábado, 24 de abril de 2010

Um elogio aos idiotas (Carlos Cardoso Aveline)



Na vida acelerada do mundo de hoje, todos desejam ser espertos, vivos e astuciosos.
Ninguém quer ficar para trás – quando você está indo, os outros já estão voltando. Ninguém mais diz frases com segundas intenções: dizem coisas com terceiras, quartas e quintas intenções. Frases que, com sorte, um leigo no assunto precisa de várias horas para decifrar e talvez dois ou três dias para imaginar uma resposta à altura. 
Em compensação, alguém que diz diretamente aquilo que pensa acaba provocando escândalo e mal-estar. É imediatamente catalogado como perigoso e tratado como idiota. A sinceridade parece contrariar as normas da convivência e da boa educação modernas. Assim, as pessoas bem educadas são amáveis, mas nem sempre se deve acreditar no que dizem. 
A idiotice é um tema vasto, com muitos aspectos diferentes, e está inscrita com destaque na cultura brasileira.  Um exemplo  disso são as tradicionais piadas de português.  Elas são uma projeção da brasilidade. No fundo, os portugueses idiotas das piadas somos nós. Os episódios que envolvem Manuel, Joaquim e Maria são todos parte da alma do nosso país –  tanto é assim que só são conhecidos no Brasil. Em Portugal, ao contrário, circulam piadas de brasileiros.  
É certo que, quando examinamos a questão da inteligência e da idiotice, surgem algumas perguntas indiscretas. O que é inteligência? O que é burrice?  Quantos tipos há de idiotas?
Podemos dizer que inteligência é a capacidade de perceber o real.  Como há realidades muito diferentes no mundo, não existe um tipo único de inteligência. Cada situação da vida requer um tipo específico de percepção, e por isso as inteligências são múltiplas.   A idiotice e a burrice podem ser definidas como a incapacidade de perceber o real, e são tão variadas quanto as inteligências. Há, portanto, muitos tipos de idiotas. Alguns deles, inclusive, são espertalhões. Sim, há muitos idiotas que passam por inteligentes, e também grande número de  pessoas inteligentes que passam por idiotas. 
Além disso, quem é inteligente em uma área da vida pode ser burro em outras. Você é esperto em política e burro na hora de jogar futebol. Sua namorada pode ser menos intelectual que você, na hora de discutir filosofia, mas há aspectos da vida em que ela coloca você no chinelo. Há coisas que seus filhos  fazem bem melhor que você, como, talvez, compreender as sutilezas de um videogame ou computador. Felizmente, ter sabedoria não é saber tudo. Ter sabedoria é saber o mais importante – e administrar bem os seus talentos.
Dos inúmeros tipos de idiotas, um dos mais interessantes foi examinado por François Rabelais, o escritor francês do século 16. Ele abordou a imbecilidade doutoral específica dos “eruditos” que usam palavras complicadas para não dizer coisa alguma. Um deles – conta Rabelais –  fez certo dia uma longa pesquisa para saber “se uma entidade imaginária, zumbindo no vácuo, é capaz de devorar segundas intenções.”  Outro queria saber  “se uma idéia platônica, dirigindo-se para a direita sob o orifício do Caos, poderia afastar os átomos de Demócrito”. Um terceiro investigava “se a frigidez hibernal dos antípodas, passando numa linha ortogonal através da homogênea solidez do centro, podia, por uma delicada antiperístase, aquecer a convexidade dos nossos calcanhares”. Rabelais qualifica tais idiotas eruditos  como professores cegos de discípulos cegos, “que tateiam em um quarto escuro à procura de um gato preto que não está lá”. [1]  Tais indivíduos eram precursores de Rolando Lero, o grande erudito que iluminou a televisão brasileira nos anos 1990.  Não é de todo impossível  encontrar esse tipo de pesquisador fazendo teses de pós-doutorado em certas universidades.   
Conheço seres humanos que têm tanto medo de parecer burros que aplaudem  – ou pelo menos fingem que compreendem –  esse tipo de raciocínio longo, difícil, sem significado algum. Mas tal constrangimento é desnecessário: deixando de lado o medo de parecer idiotas, perderemos menos tempo fingindo e  seremos mais felizes.



O exemplo de Albert Einstein, um dos maiores gênios da ciência moderna, é ilustrativo. No início da vida, ele recusou-se a falar até os três anos de idade. Seus pais – pessoas sensatas – pensavam que fosse retardado mental. Mais tarde, quando Einstein ingressou na escola, ele foi novamente considerado imbecil. Seu biógrafo é obrigado a admitir:
“Para os colegas de classe, Albert era uma anomalia que não demonstrava interesse nenhum pelos esportes. Para os professores, era um idiota que não conseguia decorar nada e se comportava de modo estranho. Em vez de responder imediatamente a uma pergunta, como os outros alunos, sempre hesitava. E quando respondia, movia os lábios em silêncio, repetindo as palavras.” [2]
Décadas mais tarde, Einstein deu o troco. Ele qualificou o nosso moderno sistema educacional como uma  estrutura que reprime a inteligência e busca fabricar idiotas obedientes: 
“A humilhação e a opressão mental imposta por professores ignorantes e pretensiosos causam danos terríveis na mente jovem; danos que não podem ser reparados e que geralmente exercem influências maléficas na vida futura.”
E ainda:
“A maioria dos professores perde tempo fazendo perguntas para descobrir o que o aluno não sabe, quando a verdadeira arte consiste em descobrir o que o aluno sabe ou é capaz de saber.” [3]
O sábio, o santo e o idiota têm muito em comum, não só entre si, mas também com as árvores e os animais. Todos eles vivem em um estado de comunhão com todas as coisas que é independente do pensamento lógico. Isso contraria a inteligência situada no hemisfério cerebral esquerdo, que rotula e classifica todas as coisas. Essa inteligência gosta de colocar-se como se tivesse o monopólio da consciência. Esse, aliás, é um dos grandes obstáculos para a prática da meditação: a mente pensante não aceita passar o poder à mente que contempla e que compreende a verdade sem necessidade de pensamentos. 
A primeira frase dos famosos “Ioga Sutras de Patañjali”, o tratado milenar sobre Raja Ioga, afirma: “Ioga é a cessação das modificações da mente”.  Para alcançar a hiper-consciência, o estado mental do êxtase divino, é necessário paralisar momentaneamente a mente inferior. O sábio é um ser que renunciou à inteligência convencional e optou por uma percepção que a mente comum não consegue captar. Por isso, mesmo no século 21, se aquele que ingressa no caminho espiritual não tiver certos cuidados, pode ser considerado louco ou idiota pelos parentes e amigos. Mas, do ponto de vista do sábio, a situação se inverte e idiota é aquele que fica preso à lógica do mundo externo. 
O ser humano geralmente vive imerso em ilusões que ele mesmo criou. Para obter a sabedoria, ele deve aprender algumas coisas e desaprender outras. Helena Blavatsky escreveu:
“A primeira condição necessária para obter autoconhecimento é tornar-se profundamente consciente da ignorância; sentir com cada fibra do coração que somos incessantemente iludidos. O segundo requisito é uma convicção ainda mais profunda de que tal conhecimento – um conhecimento intuitivo e seguro – pode ser obtido por esforço próprio. A terceira condição, a mais importante, é uma determinação indômita de obter e enfrentar aquele conhecimento.” [4]
Quase todo o potencial da mente humana ainda está por ser desenvolvido.  A ciência reconhece que usamos uma parcela muito pequena do cérebro.  O problema não é, pois, que sejamos um tanto limitados mentalmente. O lamentável é que, sendo limitados, nos consideramos extremamente espertos. O filósofo Sócrates, escolhido como o homem mais  sábio da Grécia, explicou:
 
“Eu e os homens notáveis de Atenas nada sabemos, e a única diferença entre eu e eles é que eu, nada sabendo, sei que nada sei, enquanto que eles, nada sabendo, pensam que sabem muito”.
Seguindo na mesma linha de raciocínio, o pensador espanhol Balthazar Gracián constatou:  
“O maior tolo é aquele que acha que não é, e que só os outros são. Para ser sábio não basta  parecer sábio, nem, muito menos, parecer sábio a si próprio. (....) Embora o mundo esteja cheio de tolos, ninguém se julga um deles, nem receia ser um.” [5]
Quando superamos a necessidade de parecer inteligentes e deixamos de lado o medo de parecer idiotas, libertamos nosso potencial criativo e a nossa capacidade de conhecer novos aspectos da consciência.  Quando temos coragem de colocar toda nossa mente em algo, parecemos tolos e distraídos do ponto de vista daqueles aspectos do mundo que optamos por ignorar completamente. Um exemplo claro disso é dado pela história do grande cientista que caminha absorto pela rua, perto da sua Universidade, quando encontra um colega e param para conversar um minuto.  Ao se despedirem,  o cientista  pergunta a seu colega:
“Diga-me, amigo, em que direção eu estava caminhando?” 
“Você estava indo para lá”, aponta o outro.
“Ah, obrigado”, agradece o sábio distraído.  Isso significa que eu já almocei.”
A relativa idiotice dos sábios tem outro exemplo no caso do famoso escritor inglês G. K. Chesterton.  Ele morava em Londres quando ainda não havia telefones, e vivia em um mundo tão abstrato que, certa vez, ficou aguardando notícias de sua esposa em uma agência de correios após mandar o  seguinte telegrama para ela:
“Querida, estou  no mercado Harborough. Mas onde eu deveria estar, para fazer o quê?” [6]  

No romance “O Príncipe Idiota”, o escritor Fiódor Dostoievsky descreve um Cristo moderno que aparece na Rússia com 26 anos de idade – e se comporta como um idiota desde todos os pontos de vista práticos. Ele não tem a couraça de auto-defesa que caracteriza o tipo moderno de  cidadão “esperto”.  Por isso as pessoas riem da cara dele e ele acha graça junto com os que o desprezam. Chamam-no de burro – e ele concorda, amavelmente, porque só sabe falar a verdade –  e percebe que, realmente,  não tem a astúcia dos seus perseguidores.
Leon Muishkin, o Cristo-príncipe de Dostoievsky, é epiléptico.  O escritor descreve os seus ataques como momentos de iluminação mística: “Não podia duvidar nem admitir sequer a possibilidade de dúvida: naqueles momentos havia, com efeito, beleza e oração, e aqueles instantes eram a maior síntese da vida (...). [E ele] via claramente que a conseqüência evidente desses minutos indescritíveis era a imbecilidade, o obscurecimento das suas faculdades, o idiotismo.” [7]
Dostoievsky está certo em mais de um sentido. Epilepsia à parte, há um fato que poucos estudiosos do caminho do autoconhecimento confessam abertamente: quando se desperta a inteligência espiritual, perde-se, irremediavelmente, a inteligência astuciosa que permite coisas como mentir com habilidade, usar a lisonja na medida certa e falar a verdade só quando ela traz vantagens. 
Desse despertar vem a sensação de nada saber diante do mundo. A expansão mística da consciência traz consigo uma inocência idiota em relação à realidade externa. É por isso que os sábios renunciam à agitação e a todas as formas de esperteza associadas com ela, e preferem optar por uma vida retirada. Quem deseja alcançar a consciência celestial deve abandonar a inteligência egoísta e assumir, em certos assuntos, a aparência de um abobado. 
“A razão expulsou Deus com chicotadas para o meio dos loucos”, escreveu Louis Pauwels.[8]  E o escritor sufi Idries Shah – grande pensador do islamismo místico–  escreveu um livro intitulado “A Sabedoria dos Idiotas”. Na abertura da obra, Idries Shah explicou:
“Aquilo que os homens de pensamento estreito imaginam que seja sabedoria é freqüentemente considerado loucura pelos sábios sufis. Assim os sufis, por sua vez, chamam a si mesmos de ‘idiotas’. Por uma feliz coincidência, a palavra árabe que significa ‘santo’ (wali) tem a mesma equivalência numérica que a palavra que significa ‘idiota’ (balid). Assim, temos dois motivos para ver os grandes sufis como os nossos Idiotas.” [9] 
A astúcia impede o autoconhecimento.   A milenar tradição chinesa conta que certa vez Confúcio procurou Lao-tzu – fundador da filosofia taoísta – e fez a ele uma complexa consulta sobre uma questão ritualística que considerava de grande  importância.  Desprezando a pergunta sofisticada, o mestre disse a Confúcio:
“Você precisa abandonar a sua esperteza e deixar de lado a espada da sua ambição. Os grandes sábios freqüentemente parecem tolos e estúpidos. Aqueles que obtiveram o verdadeiro aprendizado não insistem em ostentar o seu conhecimento.” [10]
Um dos maiores místicos cristãos de todos os tempos, São João da Cruz, estudou filosofia clássica grega na juventude. O modo como ele descreve poeticamente o paradoxo do “nada saber para perceber tudo”  coincide com a tradição socrática, mas também pode ser visto como uma ioga: 
“Para chegares a saborear tudo, 
Não queiras ter gosto em coisa alguma.
Para chegares a possuir tudo,
Não queiras possuir coisa alguma.
Para chegares a ser tudo,
Não queiras ser coisa alguma.
Para chegares a  saber tudo,
Não queiras saber coisa alguma.” [11]
E João da Cruz descreveu o seu êxtase místico nesses versos:
“Entrei onde não sabia,
e fiquei sem saber,
toda a ciência transcendendo.
Eu não sabia onde entrava,
porém, quando lá me vi,
sem saber onde estava,
grandes coisas entendi.
Não direi o que senti
pois fiquei sem saber,
toda a ciência transcendendo.
De paz e de piedade
era a ciência perfeita,
em profunda solidão,
diretamente entendida;
era coisa tão secreta,
que fiquei balbuciando,
toda a ciência transcendendo.
Estava tão enlevado,
tão absorto e desatento,
que meu sentido ficou
de todo sentir privado;
e o espírito dotado
de um entendimento sem entender
toda ciência transcendendo.” [12]
Embora seja verdade que nem todo idiota alcança a iluminação, é certo que todo iluminado tem algo de idiota e parecerá um tolo desde mais de um ponto de vista.  
O aprendiz da arte de viver deve romper os limites das chantagens do que é “politicamente correto” e deixar de lado os mecanismos da ignorância coletiva que buscam impor falsos consensos em função dos interesses desse ou daquele esquema de poder.
Mas, para fugir da idiotice coletiva organizada –  com sua psicologia de rebanho que proíbe o indivíduo de pensar por si mesmo –   é indispensável vencer o medo de que nos seja colocado o rótulo de ovelha negra, ou de idiota.  Só assim poderemos viver com responsabilidade própria e independência pessoal. Há uma história de Ramakrishna, o sábio indiano do século 19, que ilustra bem esse ponto:
“Era uma noite completamente escura, séculos atrás. De repente, um sujeito acende uma tocha para iluminar seu caminho e vai até a casa do vizinho. Ele quer pedir fogo, porque a noite está demasiado escura. Depois de muito gritar e bater na porta, o vizinho finalmente abre a porta, ouve seu pedido e responde: ‘Ah, ah, você é muito imbecil! Raciocine! Você já tem uma tocha acesa na sua mão!’ ” [13]
Todos nós corremos o risco de fazer como o pobre coitado que bateu na porta do vizinho. A verdade eterna e a fonte da felicidade estão em nossas próprias mãos. Só dependem de nós. Mas insistimos em procurá-las nas coisas externas e pedi-las de outras pessoas, renunciando à autonomia da nossa caminhada. 
Os sábios, como os idiotas, são íntegros.  Eles não fingem que são inteligentes e não têm medo de errar. Tentam, erram e conhecem o sabor da derrota.  Mas, quando acertam, são geniais. O idiota de hoje pode ser o sábio de amanhã, graças à experiência adquirida. Em compensação, aquele que não possui ânimo para tentar não tem chance alguma de aprender.
Por isso devemos criar uma cultura em que é permitido a cada um cair e levantar livremente. Porque somos todos apenas aprendizes. Erramos e aprendemos o tempo todo, e devemos estimular em cada ser humano a coragem de buscar – mesmo tropeçando – os seus sonhos mais elevados. Banindo da nossa cultura o medo ao ridículo, cada um se permitirá um pouco mais de deselegância e autenticidade em sua maneira de viver.



NOTAS:
[1] “Vidas de Grandes Romancistas”, por Henry Thomas e Dana Lee Thomas, Editora Globo, RJ-POA-SP, 1954, 244 pp., ver p. 32.
[2] “Einstein, a Ciência da Vida”, uma biografia escrita por Denis Brian, Editora Ática, SP, 1998, 551 pp., ver pp. 1, 3 e 4.
[3] “Assim Falou Einstein”, coletânea editada por Alice Calaprice, Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1998, 258 pp., ver pp. 64 (primeira frase da citação) e 63 (segunda frase).
[4] “Collected Writings of H. P. Blavatsky”, TPH, Índia/EUA,  volume VIII, 1990, p. 108.
[5]  “A Arte da Prudência”, Baltazar Gracián, Ed.  Martin Claret, SP, 2001, 151 pp., ver p. 102.
[6] “Father Brown Stories”, G.K. Chesterton, Penguin Books, England, ver Introdução. 
[7] “El Príncipe Idiota”, Fiódor Dostoievsky, Editorial Porrúa, S.A., México, 190 pp.,ver p. 158. Veja também o filme clássico de Akira Kurosawa baseado nesta obra, “O Idiota”, atualmente disponível em DVD.
[8] “Ramakrishna, o louco de Deus”, Introdução de Louis Pauwels, Planeta Especial, Fevereiro de 1995, 146 pp. em formato de livro, ver p. 09.
[9] “Wisdom of the Idiots”, Idries Shah, The Octagon Press, Londres, 1991, 179 pp., ver p. 5.
[10] “Tales of  the Taoist Immortals”, de Eva Wong, Shambhalla Inc., Boston, EUA, 2001, 168 pp., ver p. 56.
[11] “São João da Cruz”, Obras Completas,  Ed. Vozes, 1149 pp., ver p. 182.
[12] “São João da Cruz – Pequena Biografia ”, Bernard Sesé, Ed. Paulinas, SP, 176 pp., 1995, ver p. 135.  Uma tradução não tão boa do mesmo trecho pode ser encontrada  nas pp. 38 a 40 das “Obras Completas”.
[13] “Pictorial Parables of Sri Ramakrishna”, Advaita Ashrama, Calcutá, Índia, 65 p., 1997, p. 7.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Jardins maravilhosos

Navegando pela internet em busca de inspiração para decorar a área externa de casa, acabei em um site com imagens exuberantes. Quero plantar, pintar e fazer um cantinho bem aconchegante.
A casa onde moramos deve ser nosso santuário. Não no sentido religioso da palavra. Mas tem que ter charme, autenticidade. Tem que ter nossa assinatura. Combinar com a gente.
Então agora preciso do máximo de criatividade e do mínimo de gastos.
Depois vou postar o antes e depois da "obra"!


Que esse magnífico jardim sirva de inspiração para todos vocês!





Leonardslee está situado à beira do High Weald of Sussex, na Inglaterra, e é beneficiado pelo solo rico protegido por um idílico vale.
Sir Edmund Loder, um dos grandes colecionadores e apreciadores de plantas vitorianas, após a aquisição da propriedade de seus sogros em 1889,  começou a desenvolver os jardins como são hoje.

Cinco gerações da família  Loder viveram em Leonardslee e cada geração teve a oportunidade de fazer sua marca. Sir Edmund Loder estabeleceu vastas coleções de plantas - predominantemente rododendros e azáleas - bem como as coníferas e outras coleções. Sir Giles Loder, continuou a tradição de plantio premiado com camélias.

Mais recentemente, Robin Loder passa o tempo desenvolvendo a paisagem dos jardins, restaurando muitos dos lagos mais velhos, bem como o desenvolvimento de algumas das visões surpreendentes que você vê hoje.









Confiram esse vídeo:



Vocês devem ter observado uma casa nas fotos. Ela é chamada de "Dolls House".


Esta exposição foi iniciada em 1999. Robin Loder, inspirada por uma vertente em miniatura construída por Helen Holland, encomendou uma fazenda inteira em miniatura. Esta exposição é modelada em torno do exterior de uma casa grande e foi chamada de "Behind the Dolls House".
Como o passar dos anos, foi construído primeiro, o exterior da propriedade com os trabalhadores e suas dependências foram adicionadas, em seguida, os componentes de uma aldeia rural, com a construção de um armazém e oficinas manuais começou a crescer em uma cidade.
Finalmente, no inverno de 2006, a exposição teve que ser transferida para um novo local e uma cidade  foi criada, com uma casa na cidade, empório comercial, estúdio fotográfico, lojas de chá e propriedade do país de origem.
O "Beyond the Dolls House" exposição é visto para ser o maior e mais fino do mundo.


Aqui vai um vídeo sobre ela:

ATENÇÃO

Muitas imagens do BLOG são fonte de pesquisa na internet.
As imagens que incluem o ByNina na lateral são criadas por mim, geralmente pego frases de outros autores, citando o mesmo e imagens de fundo disponíveis na internet.
Todas as frases e pensamentos com a assinatura ByNina embaixo da arte são de minha autoria.
Lembre-se sempre de citar a fonte quando compartilhar.
E se alguma imagem tiver direitos autorais, entre em contato comigo através do e-mail bynina@hotmail.com que cito o autor ou retiro imediatamente.
Obrigada pela compreensão!

Carolina Carvalho
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