segunda-feira, 4 de abril de 2011

Relato de Parto - Jamila Maia

O relato de parto, da minha amiga Jamila, é muito emocionante e vale a pena ser compartilhado. Ela teve parto natural e o bebê nasceu em casa. Parabéns Jamila! Bem vinda ao clube das MAMÃES CORUJAS!!!
"O trabalho de parto, assim como a experiência da maternidade, é um lindo trabalho em conjunto feito por mães e filhos. No meu caso, foi incrível verificar a verdade por trás dessa frase desde o começo de tudo.

A semana havia sido impecável – aliás, como toda a gravidez foi. Na segunda, o último ultrassom mostrou um bebê perfeito e saudável. Na terça, completamos 38 semanas. Quarta e quinta, entreguei meus últimos trabalhos pendentes (sou tradutora). Sexta passei as últimas peças de roupa que faltavam e arrumei detalhes no quarto do Gael. Ao sair do quarto e olhar para tudo ajeitado, eu disse em pensamento (e coração): “filho, agora você pode nascer quando você quiser. Está tudo pronto para te esperar.”

Fui dormir e tive um sonho maluco, no qual meu filho havia nascido e era um bebê falante, que se lembrava de fatos de sua encarnação passada, uma maluquice, rs. Acordei desse sonho por causa de... contrações! Essas eram diferentes das de Braxton-Hicks, que já estavam muito frequentes desde segunda. Às 6h15 percebi a primeira e avisei meu marido. Ele, sonolento, me pediu para continuar avisando quando as sentisse para a gente prestar atenção. Intervalos de cerca de 20 minutos, nada muito regular. Levantei da cama e um jatinho de líquido – uau, será que o dia tinha chegado mesmo? Meu filho realmente levou a sério o que eu disse antes de dormir. :D

É lógico que depois disso não consegui mais sequer cochilar depois disso. Levantei e continuei monitorando as contrações, super irregulares (15 , 20, 40 minutos...). Por via das dúvidas, mandei torpedos para a parteira (Ana Cris) e minha doula (Ana Paula), para deixá-las de sobreaviso. Enquanto isso, ia tomando o chá de folha de framboeseira que eu havia ganhado na quinta-feira e tive um surto culinário: fui para a cozinha e fiz polenta e um bolo de maçã com canela e aveia.

O dia passou assim: contrações irregulares, algumas mais intensas, eu e meu marido anotando no site (contractionmaster.com). Eu estava muito tranquila e feliz. Passei o dia comendo as coisas que tive vontade – além do bolo e da polenta, ainda inventei de fazer pipoca de tarde, rs.

Por volta das 19h30, a coisa começou a pegar. Contrações mais frequentes (a cada 5, 8 minutos). Liguei para a Ana Cris, que passou em casa para me examinar, e também para minha doula – agora, a presença dela seria fundamental para encarar a nova etapa. Chamei minha mãe também, que eu havia escolhido para dar suporte logístico, mas que acabou se revelando uma doula nata ao longo do trabalho de parto também.

Ana Paula, a doula, abriu seu super kit à minha disposição: sentei na bola (que foi ótima, pois o chuveiro e outras posições – sentada, deitada, de quatro – já não estavam aliviando) e recebi massagem, florais, aromaterapia deixando um delicioso perfume no ar do meu quarto. No som, as músicas que eu havia escolhido para aquele momento. Acho que tinha coisas em umas dez línguas diferentes, tudo meio étnico, meio tribal. Eu queria músicas que me lembrassem da nossa história e diversidade como humanidade, e de todas as minhas ancestrais que pariram antes de mim. Minha mãe e meu marido se revezavam com ela nas massagens e atendendo aos meus pedidos: “pula essa música”, “traz suco de laranja”, “me abraça”.

Ana Cris chegou umas 21h30, me examinou e constatou um dedo de dilatação. Eu pensava: “poxa, o dia inteiro assim para SÓ isso?”, hahaha... A notícia boa é que meu colo do útero estava extremamente mole – tão mole que mesmo essa medição era pouco precisa. Isso já me deixou animada. Ela voltaria mais tarde, quando a coisa já tivesse engrenado.

E assim fomos. Entre as contrações, conversávamos tranquilamente, e quando elas chegavam, o trabalho voltava: massagem no quadril, anotar os intervalos.

Entrei na partolândia depois da meia-noite. No meio da dor das contrações, eu ria, chorava, me emocionava de pensar no meu filho tão perto, na gravidez acabando, no quanto eu era grata à vida por tudo estar acontecendo do jeito que eu quis. Eu estava virando mãe. Uma hora tive um acesso de choro imenso, chorei por minutos e minutos, como se estivesse me esvaziando de coisas desnecessárias que carregava em mim. Eu estava meio bicho, nem sequer respondia às perguntas das pessoas que estavam comigo, e já não tinha mais posição em que as dores ficassem menores. Eu deixava cada uma vir, sempre lembrando que ela teria fim, que cada uma trazia meu filho mais pra perto.

As contrações estavam de dois em dois minutos. Era hora de chamar a Ana Cris e a Ana Paula, a pediatra que cuidaria do Gael assim que ele nascesse. Quando elas chegaram, eram mais ou menos 2 da manhã. Ana Cris me examinou e me deixou animada: minha dilatação já era total, ou quase! Ela ficou até surpresa com a velocidade. Montaram a banheira no meu quarto e encheram o mais rápido que deu. Entrei na água com a banheira ainda incompleta, e o alívio foi imenso... A água atenuou as dores e eu até consegui voltar a conversar com as pessoas.

As contrações continuavam fortes, e eu já estava um tanto cansada. Meu marido me deu comida na boca enquanto eu estava dentro da água – suco, biscoitos... Me alimentar dava energia e força para continuar o trabalho de parto. Eu já não tinha nenhuma noção de tempo, ou de progresso. Até que a Ana Cris pediu que eu estendesse a mão e tocasse a entrada do meu canal: “tá sentindo isso aqui, Jamila? Isso é ‘um’ Gael!” Fiquei animada – nossa, faltava tão pouquinho para ele sair! – mas ao mesmo tempo fiquei ansiosa. Confesso que eu tinha medo de como seria o final do expulsivo, se eu sentiria o círculo de fogo, se o Gael estaria bem. Isso me deu uma travada.

Somou-se ao medo o meu cansaço àquela altura. Eu precisava fazer força para ajudar meu filho a descer, precisava mudar de posição, mas era como se eu não confiasse, não acreditasse que eu ia dar conta. Faltava tão pouco... Eu choramingava dentro da banheira, dizendo que estava cansada, que eu não ia dar conta. Ana Cris, que foi de uma doçura infinita o tempo todo comigo, sempre sabia a coisa certa para me dizer e me incentivar a continuar.

“Olha só, os cabelos dele são pretinhos! Estão flutuando na água!”

Eu, meio fora do ar, ficava maravilhada, mas ainda não estava totalmente empoderada para terminar. Uma hora ela me perguntou:

“Você está pronta para ser mãe?”

Eu não respondi de imediato, mas eu não tinha outra resposta para dar. “Estou”. Eu sabia que sim.

“Então faça força, pois é essa força que vai trazer seu filho pro mundo.”

Aquilo me encheu de coragem, de responsabilidade, de vontade. Eu já havia passado o trabalho de parto todo conversando com meu filho, e retomei o diálogo ali. Eu dizia, “vem, filho, vem”, e numa sincronia perfeita com as minhas palavras meu corpo disparava uma contração. Eu ajudava com a minha força. O expulsivo progredia devagar – pelo menos para a minha ansiedade, e eu comecei a desanimar de novo. Foi aí que meu marido lembrou que eu não comia há muito tempo, e me perguntou o que eu queria. Meu pedido foi inusitado: eu queria um saco de amendoim japonês que eu havia comprado especialmente para a ocasião, rs! Todos comemos o amendoim juntos, e depois disso me senti revigorada e mais disposta.

A dor era muito intensa. O Gael já estava no canal de parto e minha lombar parecia prestes a se partir ao meio. Eu chorava, achando que a força que eu fazia era insuficiente, mas a Ana Cris me incentivava e meu filho estava cada vez mais perto. Lembro de quando ela me disse para ignorar a dor e focar na força, na ajuda que eu podia dar para as contrações, e foi nessa mudança de atitude no finalzinho que eu consegui fazer o que eu precisava.

Três forças compridas e a cabeça do Gael saiu. Eu gritava, totalmente fora do ar, um grito que vinha do fundo da minha alma. Ana Cris tirou a circular de cordão (que eu já tinha visto no ultrassom). Mais uma força e o corpo saiu, ela e meu marido pegaram o Gael. Eu fiquei atônita, chorando e dizendo “a gente conseguiu!”... Gael veio direto para o meu peito, quito e calmo. Cabelos e olhinhos pretos, ficou examinando o mundo em volta. Nem chorou. Minha mãe, que tinha segurado minha mão durante todo o expulsivo, chorava, emocionada, e meu marido, do meu lado, contemplava comigo aquela pessoinha por quem a gente tinha esperado tanto. O bebê ficou quietinho junto ao meu corpo e assim que o cordão parou de pulsar, meu marido o cortou. Esse era o seu terceiro filho (o meu primeiro), mas era a primeira vez em que ele tinha essa oportunidade.

Gael foi para o colo da pediatra ser examinado, eu saí da banheira para esperar a saída da placenta (que veio poucos minutos depois) e ser avaliada também. Por causa da minha ansiedade no final e da minha indisciplina na preparação para o parto, acabei tendo uma laceração e precisei de pontos (meninas, CUIDEM do seu períneo antes do parto). O pequeno teve Apgar 8/9, nasceu ótimo.

O final de tudo é um grande borrão – lembro de todo mundo arrumando meu quarto, secando o chão, juntando a bagunça... E eu hipnotizada com o meu filho nos braços. Se tem uma coisa que nunca vou esquecer no meu parto foi a forma como eu e meu filho trabalhamos juntos, como “conversamos”. Além de toda a riqueza da experiência do parto, isso é algo que eu quero levar para a nossa vida. :)"

Jamila Maia


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Carolina Carvalho
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